Rafael
Bertolotti de Freitas
A
necessidade de uma moral laica
A ótica proposta por Nietzche, acerca da hipocrisia e
artificialidade encontradas em incontáveis crenças sobrenaturais, traz consigo
a contestação da perspectiva religiosa na fundamentação de eventos sociais.
Analisada, porém, a abrangente participação da religião no processo decisório
de diversos desses eventos, depreende-se um severo distanciamento da sociedade
contemporânea. Da filosofia existencialista. No âmbito da saúde, as campanhas
para uso de preservativos, por exemplo, sofrem grande influência da
“moralidade” religiosa, o que evidencia um descompasso entre a concepção de
democracia pós-moderna e da laicização do processo decisório.
Entende-se a Igreja, em primeira
instância, como o símbolo do tradicionalismo. Pautada e ideais seculares, tal
instituição demarca, expressivamente, a predominância do pensamento medieval,
do obscurantismo da ciência. Ainda que tendo presenciado a constante evolução
social, política e econômica por que passou a humanidade, a religião se atém,
em grande parte, às mesmas crenças difundidas com sua criação. Dessa forma,
contestadora da concepção de uma sociedade, de fato, democrática, a grande
maioria das instituições religiosas condena as relações sexuais desprovidas de
laços conjugais, o que se faz incompatível com o princípio de liberdade
defendido no mundo globalizado. Por conseqüência, a revogação d uso de
preservativos pela Igreja está atrelada à revogação da própria liberdade
individual, e o apego a esse ideal, ao descompasso com a ótica de Nietzche.
As campanhas para o uso de
preservativos abrangem, outrossim, a questão da saúde. Visando, principalmente
o controle da disseminação de DST’s, tais campanhas favorecem a concretização
de um Estado efetivamente democrático. Esse quadro se solidifica com as medidas
governamentais de concretização acerca dos riscos do chamado sexo “não seguro”
bem como através da distribuição gratuita de preservativos à população. Não
obstante, a “moralidade” religiosa se revela um claro obstáculo ao
desenvolvimento dessas políticas, ao se portar contrária a diversas medidas de
caráter social por considerá-las simples assédios aos seus princípios.
A religião, portanto, adepta ao
tradicionalismo secular, abstém-se, em geral, de percepções de mundo enraizadas
na concepção de liberdade democrática. As campanhas voltadas para o uso de
preservativos compreendem o real ideal de igualdade de direitos, abordando a
prioridade da saúde sobre uma suposta “moralidade” religiosa e a necessidade de
uma ótica laica sobre a sociedade.